"Ajustes de Cavalete Belga/Francês"

Prezados Celistas. 

Muitos são os e-mails que recebo sobre as medidas do cavalete, porém, não tinha essa informação. Tive uma experiência para ajustar o cavalete de um violino, porém, divido a falta de ferramentas, medidas e técnicas, o trabalho foi doloroso e confesso, não ficou bom.  Nesta postagem, que mais é um tutorial, um grande parceiro, Rui Maurício, explica como fazer o ajuste de um cavalete, dando as medidas básicas, bem como quais as ferramentas necessárias para se fazer o trabalho. Uma excelente contribuição para aqueles que precisam desta informação. Segue o tutorial:

Se você é um entusiada/aventureiro da luteria ou apenas músico e está aqui neste blog procurando informações desse maravilhoso instrumento, encorajamos você neste momento a fazer seu próprio ajuste da sua nova “Bridge” seja o modelo Belga ou Frances.

Em muitos casos nos deparamos em morar longe dos grandes centros onde há a maior concentração dos luthier que prestam serviços de manutenção em instrumentos de arco e por falta de informação/conhecimento acerca, acabamos por deixar nossos cavaletes muito espessos e/ou totalmente desajustados principalemente quando se trata de cellos produzidos em série.

Esse tutorial pode variar conforme seus investimentos comprar todas as ferramentas ou apenas algumas. Vou detalhar todas as ferramentas que são comumente utilizadas bem como as opcionais. É apenas um guia prático e não uma discussão téorica da arte da luteria. Então mãos na massa ops... na madeira.

Materiais e Ferramentas:

1 - Cavalete para Cello (Belga som mais brilhante devido a pouca massa após o ajuste / Frances som mais aveludado ver postagem aqui no blog sobre o assunto)

2 - pegaminhos de couro (para cordas Lá e Ré) caso achar necessário

3 – Lixas para madeira (220 ou 320)

4 - Mini plaina 22mm ou 26mm

5 – Formão - numeração mínima 11mm (utilizamos um de 26mm)

6 – Facas para cavalete

7 – Templates de encurvatura para Cello e espelho (não obrigatório)

8 – Levantador de cordas para Cello

8 – Carrinho ajustador

9 – Paquímetro Digital/analógico

10 – Espalhador de pés

11 – Lima redonda (esculpir as posições das cordas sobre o cavalete)

Ferramentas Básicas

Geralmente os cavaletes possuem uma determinada espessura em sua totalidade dependendo, claro da fabricante. Neste post utilizamos o cavalete Belga da Despiau e que possui a seguinte espessura: pés/pernas em torno de 13mm; centro em torno de 10mm e extremidade superior com 6,5mm. Faz-se necessário a retirada do excesso de madeira começando dos pés em direção a extremidade superior. Para isso utilizamos uma mini plaina ou formão para o desbaste do corpo.

Cavalete sem ajustes 

Para ambos casos devemos ter as ferramentas bem afiadas para que o corte seja preciso e não se faça buracos na peça decorrentes de uma ferramenta com corte ruim.

Para cavalete belga os pés devem estar em torno de 11mm e 12 mm para o frances. Vejam na figura as dimensões para cavaletes no modelo Frances que poderá fornecer informações aproximadas para outros modelos.

Utilize um paquimetro para verificação das medidas para evitar a retirada excessiva de massa.

No geral temos as seguintes medidas para os mais variados cavaletes.

• LARGURA MÁXIMA DOS PÉS DO CAVALETE COMPREENDIDA PELO LADO EXTERNO DE AMBOS OS LADOS: 92mm
• DISTANCIA DA PRIMEIRA (Lá) a QUARTA (Dó) CORDA PARA ASSENTAMENTO: 47mm
• ESPESSURA NO ASSENTAMENTO DAS CORDAS: 2,5mm
• ESPESSURA NA BASE DOS PÉS: 11mm a 12mm
• NA CORDA "A" NA SAIDA DO ESPELHO A ALTURAPODE VARIAR ENTRE 4 A 5,5mm
• NA CORDA "C" NA SAIDA DO ESPELHO A ALTURA PODE VARIAR ENTRE 6,5 A 8mm

Observe que os cavaletes das grandes fabricantes (Despiau, Teller, Milo Stamm, Aubert e outras) possuem um timbre gravado na peça.

Esse lado com o timbre não mexemos e geralmente fica em direção ao estandarte do instrumento o qual formará o angulo de 90º em relação ao tampo do instrumento. Assim trabalhamos o outro lado de maneira a deixar um chafro.

O segundo passo a se fazer é corrigir os pés do cavalete com o tampo do instrumento. Quando compramos um cavalete indenpedente do modelo ou a qualidade do mesmo ele já vem com uma pré-encurvatura dos pés. Porém, devemos retirar o excesso de madeira com uma faca ou formão com o intuito que os dois pés do cavalete estejam em extremo contato com o tampo.

Utilizo o formão, pois como ele é plano o corte fica mais preciso e agiliza o processo. Com o cavalete sobre o tampo visualizamos quais as parte que não estão em contato com o tampo e vamos fazendo o acabamento com a faca caso necessite de uma bombatura.

Lembramos que a cada retirada de madeira dos pés seja, pequena ou muita se faz necessário a verificação com o tampo a todo o momento, para que não retire madeira de locais inapropriados o que poderá gerar muito trabalho para “consertar” o estrago e nos piores casos até mesmo a perca da peça. Então todo cuidado é pouco quando estamos se tratando dos pés.

Após retirarmos o excesso de madeira dos pés, vamos demonstrar a utilidade do espalhador de pés de cavalete. Essa ferramenta simula a tensão produzida pelas cordas do cello quando o mesmo está afinado. A tensão das cordas faz com que as pernas do cavalete se abrem alguns mm para ambos os lados, e ajustando os pés com essa ferramenta evita de afinarmos o instrumento e verificar que os pés se deslocaram e dai temos o retrabalho de retirar as cordas e fazer todo o processo.

Claro, é uma ferramenta que facilita o processo, caso não tenha o mesmo pode-se se fazer no método tradicional. Note na figura que mesmo com os pés em perfeito contato com o tampo do cello há um excesso de madeira na parte superior dos pés. Esse excesso é retirado com o auxílio de uma faca onde devemos nos aproximar de 2mm a 2,5mm de espessura.

Outra ferramenta opcional que lhe ajudará a finalizar o ajuste dos pés é o carrinho ajustador. Trata-se de um suporte metálico que possuem uma roda que ao preder o cavalete e com o auxilio de uma lixa faz um refinamento dos pés.

Lógico, não vamos comprar um cavalete e com o carrinho fazer o desbaste com ele. Passará longos dias entre idas e vindas com essa ferramenta. Ela deve ser utilizada para finalização, ou seja, quando com o auxílio da faca pequena imperfeições são acomedidas no pé do cavalete e para dar um desbaste mais perfeito utilizamos com um pedaço de lixa sobre o tampo conforme numeração descrita.

Acreditamos que a parte mais difícil já passou... que era o desbaste do corpo e pés do cavalete. Vamos agora trabalhar a encurvatura do cavalete por onde as cordas passarão. Utilizaremos o levantador de cordas para cello. Essa ferramenta possue em seu centro um parafuso ajustável e conforme a tabela descrita no início devemos encontrar as medidas para as cordas Dó e Lá.

A questão das alturas das cordas em relação ao espelho deverá observar o tipo de cordas que você utiliza (aço ou sintética), pois cada uma tem uma tensão e logicamente o cavalete deverá ter uma determinada altura. Mas digo que para cordas de aço (Paganini, Giannini, algumas Pirastros entre outras) deve ter a seguinte altura: A = 5,5mm e C= 8mm.

O porque dessa altura? está no fato da tensão das cordas de aço exigir maior força para tocar, e para facilitar tocabilidade o cavalete é regulado mais baixo nessa duas alturas padrões. Mas ai vc me pergunta e a Ré e a Sol? como o espelho é semi circular e/ou angulado o cavalete segue essa encurvadura.

Para cordas sintéticas e de tripa utiliza-se para corda A= 6mm e corda C= 9mm. Claro, essas medidas variam conforme o projeto de seu instrumento caso esteja dentro dos padrões de lutaria.

Após a conferência das alturas das cordas vamos traçar com um lápis a encurvatura do cavalete conforme o ajuste da ferramenta. Caso não tenha a ferramenta citada acima, mas possua o template de cavalate esse tem o mesmo efeito para traçar a encurvadura.

Nos piores casos (ausência de ferramentas específicas) podemos fazer a encurvatura do cavalete com ajuda do traçado do espelho. Não é muito convencional, mas dá certo.

Seguindo o traçado com uma faca afiada retiramos o excesso de madeira onde as cordas serão assentadas e fazemos a marcação entre a primeira corda (Lá) e a quarta corda (Dó) que é a distância de 47mm.

Para encontrar a distância entre as demais cordas (Sol e Ré) dividimos esse valor por três (47/3 = 15,6).

A abertuda da cavidade de assentamento das cordas é produzida com uma lixa redonda para cavaletes.

E como resultado final pode-se colocar um pergaminho em couro nas cordas Lá e Ré, abrir os olhos do cavalete caso deseje entre outros ornamentos a critério do artista.

Fica registrado como se faz. Ao meu ver, tarefa complicada que exige ferramentas e paciência para se obter um resultado bonito. Vai ver que por isso que os luthiers cobram - rsrsrs -. bom, na necessidade, agora existe aonde recorrer pois, até então, não conheço!

Se houver dúvidas, por favor, blog está aberto.